julho 10, 2008

Caprichos (I)


Uma estúpida acusação sem sentido. Apenas mais uma a somar ás agrssões verbais e atitudes pouco inteligentes que suportara durante toda a semana. A vontade de vingança e a acumulada sede de sair e dar asas á noite de Maputo transformou-se numa certeza. Naquela noite decidi sair, beber e caçar. Se ficasse ali com ela acabaria por continuar outra discussão inútil e fútil pois não aguentaria muito tempo ficar calado.

A seguir ao jantar, mastigado sem gosto e sem palavras meti-me no duche e vesti uns jeans e uma camisa. Ela nem reagiu quando anunciei que ia beber uma café. Em pouco mais de quinze minutos estava a entrar no carro. Seriam 21 horas.

Era cedo para assumir certezas quanto ao local de permanência. Primeira etapa. Eagles. Um café e um duplo seco. Os habituais já marcavam presença. Ainda não consegui entender porque razão aquelas alminhas passam ali uma noite frente aos copos a deitar conversa fora, a olhar as femeas em pleno cio financeiro e acabam invarialmente bem grossos a voltar para casa sós. Mas isso é a vida dos outros.

Por algum tempo fiquei sentado a olhar a fauna. Eles com muito pouco para expremer. Interessados por fora, frios e vazios por dentro. Elas com tudo para oferecer e sem grandes opções de escoar o produto. Parecia um corredor do shopping com lojas carregadas de produtos contrafeitos e compradores com pouco taco e ainda menos interesse em algo mais do que admirar as montras. A lei do mercado na sua essência. No fechar da tenda elas acabarão por oferecer em saldo o que têm e eles sem espaço ou disponibilidade para mais nada, e com o sangue preenchido maioritariamente por alcool, nem isso levarão por completa incapacidade fisica e moral.

Bebido o café e engolido de um trago o duplo, tentei não me deixar envolver pelo tédio da paisagem. Pedi a conta, paguei e voltei a entrar no carro. Uma volta pelas entradas dos principais locais. Tudo meio vazio, ou meio cheio. Mas nada que me obrigasse a parar.

Decidi parar no Bar & Bar seriam umas 23. Cumprido o ritual do porteiro chato tentei ambientar os olhos à meia luz prevalecente. No som, um samba agradável e conhecido. Dirigi-me ao balcão estratégicamente elevado e pedi um outro duplo seco. Na minha frente um grupo de femeas maioritáriamente conhecidas de outras batalhas dava asas ao apelo do sangue e, apesar do espaço exiguo, dançava de copo na mão exibindo-se aos mais interessados.

A fauna feminina estava ali razoávelmente representada em quantidade e qualidade. Alguns exemplares um pouco usados e gastos não chegavam para estragar a composição da sala. Todas denotando muita alegria e acima de tudo total disponibilidade para viver. Os machos caçadores estavam em confrangedora inferioridade numérica o que dava aos presentes um falso sentido de posse.
Na tentativa de furar até ao balcão, uma morena lindissima encostou e esfregou ostensivamente, os seios fartos e quentes nas minhas costas. Lentamente virei-me e encarei-a desafiador. Vestia um transparente leve e esvoaçante, deixando vêr as coxas e parte considerável do peito. Aquela parte que normalmente elas mostram para que se consiga imaginar mais fácilmente o resto. Tinha olhos grandes e escuros. Pelo sorriso e olhar insinuante que me lançou quando a fitei, deixou claro que estava disponível sem necessitar-mos sequer de trocar palavras.
Fiquei a vê-la afastar-se de copo na mão a bambolear as ancas descendo os degraus em direção à sua mesa. Recostei-me na parede e bebi mais um trago enquanto lhe tirava uma radiografia de costas. Estava ali uma boa aposta caso nada mais acontecesse de relevante nos minutos seguintes. Tempo era coisa que não me faltava, mas mesmo face à fartura esta era uma peça a não desprezar. Antes de se sentar voltou a olhar-me desafiadora.